domingo, outubro 6, 2024
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Picolé de chuchu e homem invisível da direita, Nunes está perto de levar SP

Ricardo Nunes (MDB) nunca esteve muito à vista. Mas, em pequenas prestações, foi tomando o poder na cidade de São Paulo e pode ser de fato eleito prefeito. Tem apenas 27% dos votos, na prática empatado com Guilherme Boulos (PSOL), com 25%, e pouco longe de Pablo Marçal (PRTB), com 21%, um delinquente. Mas, em um segundo turno, ganharia de lavada de Boulos e Marçal, diz o Datafolha. Isso se não houver daquelas reviravoltas pândegas na véspera da eleição, cortesia das redes insociáveis.

Nunes era meio incógnito. Talvez seja a sua vocação, ainda mais eficaz em um país “polarizado”. “Falem de mim, mas não falem nada”, deveria ser seu mote. Ainda em agosto, 36% dos paulistanos diziam não conhecer o prefeito ou sabiam dele “só de ouvir falar”.

Seus eleitores são os menos animados com a própria escolha. Apenas 40% dizem que Nunes é o “candidato ideal”, a menor taxa entre os cinco principais candidatos (outros 60% dizem votar nele por falta de opção). Ou seja, menos de 11% dos paulistanos acham que ele é o “candidato ideal”. Não tem tu, vai tu mesmo.

Sintomaticamente, a rejeição a Nunes, de 21%, é de longe a menor dos três candidatos que devem disputar vaga no segundo turno: a de Boulos é 38%; a de Marçal, 48%. Meio desconhecido, pouco rejeitado, Nunes é o picolé de chuchu da direita, sem gosto e sem cheiro, como o dinheiro.

Em fevereiro, Nunes foi ao comício de Jair Bolsonaro (PL) pela anistia dos golpistas, tentando cavar o apoio do capitão das trevas. Mas ficou escondidinho. Nem dá para afirmar que o prefeito seja um bolsonarista que não ousa dizer seu nome: “Não me comprometam”, diria com razão o homem invisível da política.

Enfim, seu vice na chapa, um ferrabrás da direita, foi indicado por Bolsonaro. Para pagar a prestação do apoio, Nunes foi também ao segundo comício da anistia dos golpistas, no 7 de Setembro. Se pudesse, teria aparecido com um saco de pão na cabeça, como o Charlie Brown dos velhos cartuns.

Em 2013, assumia seu primeiro mandato de vereador paulistano. Em 2020, era candidato a vice-prefeito de São Paulo, na chapa de Bruno Covas (PSDB), sabendo que seria prefeito precoce, já em 2021. Covas morreu seis meses depois de tomar posse, aos 41 anos.

Até onde a memória e as estatísticas confiáveis alcançam, a cidade jamais teve tanto dinheiro para investimento, mas nem parece. Eram menos de R$ 4 bilhões anuais, em média, no quadriênio pré-epidemia. Agora, mais de R$ 16 bilhões.

Muito dinheiro vai para asfalto. A avenida Paulista, a um quilômetro da minha casa, parece um piso de shopping. Dá para jogar futebol de botão (alguém ainda joga?). Na semana passada, passei pela Vila Nova Cachoerinha e Jardim Peri, saindo da cidade pela extrema zona norte, perto das montanhas da Cantareira, um dos poucos lugares onde dá para ver que São Paulo acaba e é o fim da picada. As favelas perto dos matos continuam as mesmas.

Talvez seja melhor fazer asfalto. Se fizesse uns 30 CEUs na periferia, talvez notassem ainda menos a prefeitura do Nunes —CEUs são umas escolas públicas incrementadas, criadas pelo governo petista de Marta Suplicy (2001-2005).

As prefeituras de Mário Covas (1983-86) e Luiza Erundina (1989-92) tentaram gastar o pouco dinheiro que tinham na periferia. Não deu muito prestígio eleitoreiro.

Melhor se fingir de morto, um morto muito vivo.


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