domingo, outubro 6, 2024
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Uma escola sem celular é possível

Quando eu estava no ensino médio, em meados dos anos 2000, eram poucos os alunos que tinham seu próprio celular. Aos poucos, isso foi mudando e começamos a utilizar mensagens de texto para nos comunicar. Atire a primeira pedra o adolescente daquela época que não realizou ligações de até três segundos para evitar pagar pela chamada.

Nas últimas duas décadas, a maneira como usamos o celular mudou drasticamente. Do uso eventual, os celulares, em especial os smartphones, transformaram-se em uma extensão dos nossos braços. Aqueles mais jovens do que eu já cresceram nesse ambiente em que a presença do celular era uma constante, e não somente nas famílias com mais recursos. Crianças cada vez mais jovens estão tendo acesso ao aparelho, mesmo sem termos ainda a extensão dos efeitos que podem causar no seu desenvolvimento.

Para quem trabalha com educação desde antes da revolução dos smartphones, a diferença na sala de aula é evidente. Atire a segunda pedra quem já tentou, em tempos recentes, dar aula para adolescentes sem precisar se preocupar se eles iriam se distrair com seus aparelhos.

Nem precisaria de muitos estudos científicos para identificar que o uso irrestrito do celular por crianças e adolescentes está relacionado com mais distrações, menor poder de concentração, além de casos de bullying e problemas como depressão e ansiedade. Mas os estudos já existem e os resultados são alarmantes sobre os efeitos em aprendizado e saúde mental.

Não à toa, as restrições ao uso do celular nas escolas vêm se espalhando rapidamente pelo mundo. Em alguns países, as restrições são mais brandas, por exemplo, os alunos podem levá-lo para a sala de aula, mas devem mantê-lo guardado. Em outros lugares, os smartphones estão banidos da escola e os alunos não podem utilizar nem no período de recreio. Às vezes, nem professores podem levar seus aparelhos para a sala de aula.

São vários os modelos possíveis. No Brasil, alguns estados já têm medidas de restrições. O município do Rio de Janeiro é um exemplo, em que, desde o início deste ano letivo, os alunos não podem usar celular nem no recreio.

Agora, a intenção do governo Lula é expandir esse tipo de restrição em nível nacional. Segundo o ministro Camilo Santana, o projeto de lei, que deve ser apresentado em outubro, oferecerá segurança jurídica aos entes subnacionais para implementar as restrições em suas redes de ensino. É uma decisão acertada.

Pode parecer radical, mas vai ao encontro das evidências encontradas e de experiências bem-sucedidas.

A ação coordenada importa. Se, em uma escola, apenas alguns pais não permitem que seus filhos levem celular, é possível que haja efeitos negativos para os jovens que estão sendo privados de uma importante via de sociabilização de sua geração. Mas, se ninguém na escola está trocando mensagens e vídeos durante o período escolar, constrói-se um ambiente que propicia outras formas de socializar, além de reverter os efeitos perversos na concentração.

Com o impulsionamento em escala nacional e com base nas experiências recentes de restrições, ficará mais fácil para as redes desenharem modelos implementáveis com potencial de sucesso. Sem querer atirar pedras no celular, mas tudo tem lugar e hora.

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