domingo, outubro 6, 2024
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Crescer de 2% a 3% hoje equivale a algo entre 3% e 4% na década de 2000

As projeções dos analistas para o crescimento do PIB brasileiro neste ano foram revisadas para cima nas últimas semanas. Com isso, o crescimento médio do PIB brasileiro no triênio 2022-24 deverá se situar em torno dos 3% ao ano.

Excetuando o triênio 2021-23, em que o PIB cresceu 3,6% a.a. (número bastante influenciado pela alta de quase 5% em 2021, refletindo, por sua vez, a base muito deprimida de 2020, quando o PIB recuou 3,3%), esse ritmo médio em 2022-24 deverá ser o melhor desde 2011-13 (quando a alta também foi de 3% a.a.).

Já quando se olha para a frente, boa parte das projeções indica um crescimento do PIB de cerca de 2% a.a. de 2025 em diante, com o governo, OCDE e FMI um pouco mais otimistas, esperando altas em torno de 2,5% a.a. Esses números são compatíveis com o intervalo das estimativas mais atualizadas para o crescimento potencial do Brasil.

Embora esses números representem um alento ante aquilo que se observou no período 2014-2021 (variação média anual do PIB ligeiramente negativa), muitos consideram que crescer 2% a 2,5% a.a. corresponderia a um desempenho pífio comparativamente a outros países emergentes ou mesmo ao próprio Brasil do passado.

Contudo, essas comparações precisam ser feitas com cuidado. Não dá para comparar o Brasil e esses 2% a 2,5% a.a. com a Índia e suas taxas atuais de cerca de 7% a.a. O país asiático ainda tem um PIB per capita que, hoje, é menos da metade do brasileiro (ajustado pela paridade do poder de compra). O nível atual do PIB per capita dos indianos é semelhante àquele do Brasil no começo dos anos 1970.

A China, que recentemente atingiu um nível de PIB per capita semelhante ao brasileiro, já não registra as taxas de crescimento de dois dígitos de outrora, com as projeções mais recentes indicando expansão do PIB de cerca de 4,5% em 2025 e desacelerando para pouco mais de 3% no final da década.

Esses resultados são coerentes com aquilo que prevê a chamada “teoria da convergência“: países relativamente mais pobres (isto é, com um nível de PIB per capita inicial menor) tendem a apresentar taxas de variação do PIB maiores.

Mas isso não é mecânico: há bastante heterogeneidade entre os países (inclusive diversos casos de retrocessos, notoriamente Argentina e Venezuela) e mesmo ritmos distintos a depender do momento histórico (a convergência dos países pobres/emergentes em direção aos desenvolvidos ficou mais evidente nos últimos 40 anos).

Também é preciso cautela na comparação do crescimento do PIB brasileiro ao longo do tempo. As projeções mais recentes do IBGE, que já levam em conta o Censo 2022, indicam uma taxa de crescimento populacional de 0,4% a.a. no período 2024-2030, bastante abaixo daquela observada nas décadas de 2000 (1,1% a.a.) e de 1970 (2,5% a.a.).

Assim, o crescimento do PIB em 2000-2013, de 3,6% a.a., correspondeu a uma alta per capita de 2,5% a.a. Com o atual crescimento populacional, seria preciso um crescimento do PIB total de cerca de 2,9% a.a. para repetir a evolução per capita observada no “período de ouro” recente brasileiro.


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