domingo, outubro 6, 2024
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Quem quer um marido tradicional?

Até a Tupperware pediu falência, mas as tradwives (esposas tradicionais) têm feito dinheiro nas redes sociais vendendo um estilo de vida da década de 1940, da mesma época em que a marca de potes de plástico entrou na moda. O que ainda não vi foi uma versão atualizada do marido tradicional ou, se preferirem, o tradhusband. Sim, claro que já há essa denominação, afinal, a existência de um depende do outro.

Ao contrário do modelo feminino, que lava-passa-cozinha-cuida-faz academia, está em alta no mercado e vem sendo festejada em bolhas reaças, a versão masculina nunca deixou de estar disponível. Infelizmente, na metade da terceira década do século 21, o homem ainda vem, em sua maioria, na versão analógica, com poucas funções: procria, protege e paga contas. Sabemos que não é assim, mas é a propaganda que se faz.

Considerado obsoleto pelas novas gerações de mulheres que descobriram que podem cuidar da própria vida, o macho provedor ganhou sobrevida com essa onda que enaltece a submissão. A da esposa, claro.

Mas quem quer um marido tradicional? Para começo de conversa, nem toda mulher quer um marido. Segundo ponto, a tendência para as próximas décadas é que o modelo clássico de homem (protetor e provedor) entre em desuso. Aquelas advertências sobre o tradhusband, que sempre vieram em letras miudinhas, ganharam os holofotes, teses acadêmicas, alertas das amigas, notificações em massa dos movimentos feministas.

Maridos tradicionais, se não passaram por uma revisão de valores de comportamento, se não tiveram atualização de software, vêm com defeito de fábrica e não há curso de desconstrução da masculinidade que melhore o produto final. Inclusive porque para o tradhusband, quanto mais machão, melhor. Quanto mais conservador, menos dotado das funções ajudar, participar, dividir, compartilhar.

E a conta para bancar um marido desatualizado, quase sempre vem acompanhada de encargos altíssimos, que inclui controle, opressão, violência. As estatísticas de feminicídio não são números aleatórios, mas um retrato da realidade de mulheres mortas porque ousaram enfrentar homens “tradicionais”, aqueles que não aceitam o fim das relações, fiscalizam roupa, cor do esmalte, amizades, trabalho e se o jantar sai na hora certa.

O marido tradicional deveria ser descontinuado, incluindo as versões “não paga pensão”, “não lava louça”, “meu trabalho é mais importante”, “não consigo ser fiel”, “não sei cuidar de criança”. O grande problema da exaltação dos estereótipos de gênero, em vídeos bem-produzidos para o TikTok, é que vendem acordos saudáveis na divisão de papéis, mas escondem os bastidores tóxicos de relações em que há desequilíbrio de poder para que o homem reafirme o seu.


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