O horário de verão deve voltar no Brasil? SIM
Pouco depois da crise hídrica de 2021, o Brasil enfrenta uma nova seca de proporções históricas. A sociedade novamente debate sobre a volta do horário de verão. A mesma pergunta sendo feita há anos, e a postergação da decisão custa caro.
Muitos dizem que a economia é pequena, mas há dinheiro sobrando? Nossa população está em condição de dispensar uma medida que reduz custo, estimula setores da economia e é menos poluente? Vivemos no país da energia barata e abundante, porém da conta de luz cara. Devemos mesmo renunciar ao uso de ferramentas que promovem eficiência energética?
Acredito que não.
A economia que precisamos fazer não é só em dinheiro, mas também em emissão de gases de efeito estufa. Além do resultado positivo no curto prazo com a volta do horário de verão, em um horizonte maior devemos considerar a redução de impacto ambiental e a mitigação das já presentes e drásticas mudanças climáticas. Precisamos fazer todo o possível para frear as emissões de dióxido de carbono (CO2), pois a temperatura no planeta está aumentando e já passou da hora de agirmos contra isso.
A recomendação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indica o restabelecimento do horário de verão. O órgão técnico responsável por essa avaliação criteriosa diz “sim”, e essa recomendação diz muito.
Ao governo federal cabe analisar todas as variáveis e possíveis impactos —justa preocupação acerca das implicações inerentes a qualquer alteração no horário do país.
O que mudou em relação a 2021 é que agora temos muito mais oferta de energia solar e podemos aproveitar uma hora a mais dessa fonte para suprir a demanda de consumo com uma energia mais barata e limpa. Muitos países gostariam de ter à disposição essa riqueza —e nós temos, mas há quem defenda não usar porque “a economia é pequena”.
Estudo do ONS apresentado no Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) calcula redução de R$ 356 milhões no uso de combustível termelétrico para o período em que o país permaneça com o relógio adiantado.
Além disso, com a redução estimada em cerca de 2 GW nos momentos de pico de demanda a partir da aplicação do horário de verão, o ONS prevê economia anual de R$ 1,8 bilhão em receitas fixas para a chamada reserva de capacidade. As cifras representam o quanto o país poderá deixar de gastar com o acionamento de usinas térmicas a partir do ajuste no horário. Não se pode dizer que é pouca coisa.
Desta vez não há risco de desabastecimento, e é importante deixar isso claro para que não se instaure o pânico para justificar contratações indiscriminadas de termelétricas caras e poluentes. Não podemos permitir que se crie uma atmosfera de medo para validar supostas soluções emergenciais desnecessárias quando temos ao nosso alcance ferramentas eficientes e menos agressoras à natureza.
O horário de verão é amplamente adotado na América do Norte e Europa. No Brasil, foi usado de forma inconstante entre 1931 e 1985. A partir de então, a definição de sua aplicação, abrangência e duração foi estabelecida a cada ano por decreto presidencial, até que em 2008 criaram-se regras perenes, dando previsibilidade para os setores da economia se planejarem.
Ao longo dessa trajetória, o horário de verão produziu considerável economia nos custos e na redução da emissão de CO2. Precisamos usar com inteligência os recursos disponíveis. Chegou a hora de retomar essa prática bem-sucedida em prol da população e do planeta.
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