Grupo LVMH paga 15,5 milhões de euros por 1,3 ha de vinhedos

O grupo LVMH, proprietário de marcas de vinho de super luxo como o bordeaux Château Cheval Blanc e os champanhes Krug e Dom Pérignon, em meados de setembro, comprou 1,3 hectares de vinhedos na Borgonha pela bagatela de 15,5 milhões de euros! Esse valor astronômico está causando revolta entre os outros proprietários de vinhedos da região.

Não, não é inveja. O problema é que a super valorização das propriedades cria um problema enorme para as famílias de vignerons (vinhateiros). Na França, heranças pagam impostos bastante altos. Quando os pais morrem, para assumirem a propriedade da família, os filhos têm de pagar 40% de imposto sobre o valor de mercado da terra.

Apesar de seus vinhos serem caríssimos e a sua terra valer tanto, essas famílias, na maioria, não são milionárias. A produção de vinho costuma ser pequena e é sempre custosa. Portanto, o lucro não é tanto. Quanto ao valor das propriedades, essa gente está sentada sobre montanhas de ouro, mas só pode mexer nessa fortuna caso venda as propriedades. E eles não querem fazer isso de forma alguma.

Só que agora estão sendo obrigados a vender para pagar os impostos de sucessão. E outros produtores não têm bala para comprar. Só grupos de investidores ou bilionários têm capital suficiente.

“Desta forma, todas as joias de França pertencerão ao clube dos ultra ricos do mundo”, declarou Thiébault Huber, viticultor de Meursault e presidente da CAVB (Confederação das Denominações e Viticultores da Borgonha) à imprensa francesa. “Não teremos mais empresas agrícolas familiares.”

Eles lutam para mudar as regras fiscais. Caso não consigam, a tendência é mesmo os grand crus e premier crus, parcelas de terras mais especiais, irem todos parar nas mãos de empresas de fora da Borgonha. E aí fica a pergunta: essas empresas vão saber fazer vinhos tão especiais quanto os de hoje?

Para a maioria dos mortais, isso não faz diferença alguma, pois os vinhos da Borgonha já são absurdamente caros. Os preços dos vinhos de produtores bem cotados costumam começar por volta dos R$ 300 e podem chegar a alguns milhares. Esses preços altos, no entanto, já são um efeito do amor que os bilionários pegaram pela região. Trinta anos atrás, esses vinhos eram caros, mas não eram impossíveis de pagar.

Só que esse amor vem não apenas das benesses da natureza, que de fato proporciona condições ideais para a produção de grandes vinhos. Muito da fama da Borgonha vem também do estilo de vida de seus vignerons, da produção artesanal, da exclusividade. Do charme do estilo de vida local.

Sem dúvida alguma, o grupo LVMH tem o seu charme, e sabe produzir grandes vinhos. No entanto, tem um tipo de charme que ele nunca terá, o charme da simplicidade. Esse os vignerons têm de sobra, apesar do preço de seus vinhos.

É sempre a mesma história. O dinheiro busca possuir o que não pode comprar. E, nessa ânsia de posse, destrói seu objeto de desejo. Em menor ou maior escala, vemos acontecer toda hora. Com a vila caiçara, a praia deserta ou até o bairro sossegado.

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