domingo, outubro 6, 2024
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Reduzir o desperdício de alimentos é estratégico na mudança climática

O desperdício de alimentos é um problema global quase invisível aos nossos olhos. Ainda sabemos pouco sobre o montante descartado no Brasil, um dos mais pujantes produtores de alimentos do mundo.

Mitigar o desperdício é uma agenda estratégica para ampliarmos a oferta de alimentos saudáveis e reduzirmos os impactos da mudança climática. Aproximadamente R$ 4,1 bilhões, apenas em frutas e hortaliças, foram descartados pelas principais redes varejistas nacionais em 2023.

Parte do desperdício dos supermercados e feiras deriva de ineficiências de controle de pragas, transporte, embalagem e manuseio nas etapas anteriores da cadeia produtiva. O problema das perdas de alimentos começa antes mesmo do plantio. Se o produtor rural não tiver capacidade de planejar bem o quê e quando cultivar, a viabilidade da safra pode ser comprometida por fatores climáticos ou de mercado. Além da necessidade de prever a demanda, é preciso ter acesso a sementes e mudas de qualidade. Por fim, a comida enfrenta o comportamento do consumidor.

Pesquisa nacional sobre desperdício familiar, realizada por Embrapa e FGV em 2018, estima em 9 milhões de toneladas o desperdício anual de comida das famílias. O volume é suficiente para encher 750 mil caminhões compactadores de lixo com capacidade de 19 m3. Se enfileirados, esses caminhões dariam uma distância de 4.945 km, superior aos 4.175 km do Oiapoque ao Chuí.

E por que esses números não saltam aos nossos olhos? Não temos o hábito de prestar atenção à nossa geração de resíduos, e o que se joga fora no elo final da cadeia produtiva de alimentos parece não importar aos demais atores do sistema alimentar. Seguimos uma lógica produtivista e linear, ao passo que a emergência climática demanda fortalecermos a circularidade dos alimentos.

Para reduzirmos as emissões globais de metano de 40% a 45% até 2030, projeção do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) para limitar o aquecimento global a 1,5°C, os Planos Climáticos Nacionais devem estar atentos aos impactos ambientais do desperdício. Tais planos devem nortear a substituição da economia linear por sistemas alimentares circulares.

Um caminho viável para a transformação almejada é por meio dos governos locais. Sistemas alimentares urbanos podem impulsionar inovações diversas em agricultura urbana, redistribuição de alimentos e espaços de comercialização com enfoque na biodiversidade e cultura locais. Mas, principalmente, compreender que alimentação requer políticas permanentes com participação social e das áreas consolidadas nas gestões municipais, tais como saúde, educação e economia.

Podemos avançar mais rapidamente na redução do desperdício, e o otimismo não é sem justificativa. O governo federal está engajado e aumentou o interesse dos organismos internacionais em cooperações. Temos ainda iniciativas com governança bem delineada, tais como o Pacto Contra a Fome. A força da sociedade civil, com voz em conselhos, também impulsiona iniciativas diversas. A faca e o queijo estão na mesa para não deixarmos sobrar mais nada neste Brasil diverso e de rica cultura alimentar.

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