domingo, outubro 6, 2024
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Marçal corre por doações na reta final e aposta em voto 'envergonhado'

A cinco dias da eleição, o influenciador Pablo Marçal (PRTB) corre atrás de doações para a campanha, aposta no voto “envergonhado”, mira o eleitor indeciso e promete criar “ondas” —que, segundo ele, irão garantir sua vitória ainda no primeiro turno, cenário muito diferente do traçado pelas pesquisas eleitorais.

O mais recente levantamento do Datafolha, da última semana, indica cenário de estabilidade, com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) disputando a dianteira, com 27% e 25% das intenções de voto, respectivamente. Marçal aparece logo em seguida, com 21%.

Um integrante da campanha defende à reportagem que os institutos de pesquisa não estão captando o voto “envergonhado”, um fator surpresa que poderia beneficiar o influenciador no domingo (6).

Ele se refere a eleitores que não assumem o voto quando questionados, mas que escolherão o autodenominado ex-coach. Segundo essa lógica, o comportamento agressivo do candidato poderia desestimular os entrevistados a dizer publicamente que o apoiam, por vergonha ou medo de julgamento.

Na resposta espontânea, 28% dos eleitores afirmam que ainda não sabem em quem vão votar, mostra o Datafolha.

Ainda segundo este integrante, os “trackings”, como são chamadas as pesquisas internas das campanhas, indicam que Marçal está em primeiro lugar.

Em reunião online com apoiadores nesta terça (1°), o próprio candidato mencionou o tema. “Tem um fenômeno chamado voto envergonhado. De tanto que bateram em mim, as pessoas não estão querendo nem na pesquisa falar”, disse. “Descobri isso rodando pesquisa [com a pergunta] ‘Quem você acha que vai ganhar?’. [Meu nome] Está batendo 46%, para vocês terem uma ideia”, continuou.

Nesse encontro, Marçal estimou apoiadores a transformarem outras pessoas em “líderes” da campanha —ou seja, voluntários engajados em disseminar material em apoio ao empresário e virar votos para ele.

Também participou da reunião o assessor Junior Neves, que afirmou que o objetivo dos líderes agora deve ser mapear os eleitores indecisos e descobrir quais objeções eles têm em relação a Marçal, repassando as informações à equipe do candidato.

Outro assessor, Diego Neves, disse que os líderes podem ajudar a diminuir a rejeição do empresário e a chegar nas pessoas que não têm acesso a celular, principal meio de engajamento do influenciador. Afirmou, ainda, que é importante reforçar o número de urna do candidato.

Na última semana, o influenciador intensificou a divulgação do Pix da campanha em sabatinas e em suas redes sociais, assim como fizeram seus assessores. Marçal tem dito que “a única coisa que falta é munição”.

O autointitulado ex-coach sinalizou que ficou frustrado com os jantares com empresários, realizados na mansão do advogado Marcelo Tostes, que doou R$ 310 mil para o candidato.

“Não aguento mais ver esse povo do jantar. Sempre os ricos e os ricos não ajudam. Aos pobres que têm ajudado eu quero agradecer”, disse nesta segunda-feira (30).

Ele afirmou que não haveria novos encontros nesta semana, mas, como mostrou a coluna Mônica Bergamo, o influenciador se reunirá nesta terça em um jantar com empresários organizado pelo deputado federal Ricardo Salles (PL).

Pelos cálculos de Marçal, faltam R$ 3 milhões para arcar com os custos da campanha, que, segundo ele, não contou com recursos públicos do fundo eleitoral. “A grana que a gente tem não dá para ganhar [eleições] para vereador”, afirmou antes de participar de carreata no Grajaú, na zona sul de São Paulo, no domingo (29).

Na tentativa de aumentar o caixa, ele chegou a pedir nos últimos dias R$ 5.000 a candidatos a vereador em todo o país em troca de um vídeo de apoio.

Além da corrida por doações, as falas de Marçal têm indicado que ele pode buscar ainda mais polêmicas nos dias que antecedem o pleito. A estratégia que ditou o estilo do neófito nas eleições paulistanas se resume, segundo ele, a “ondas de vibração que atingem todo mundo”, usadas para mantê-lo em evidência e, assim, compensar sua ausência no horário eleitoral.

Ainda faltam quatro dessas ondas para garantir um crescimento diário de dois pontos percentuais, afirma o influenciador, que até aqui apostou nos ataques para se tornar mais conhecido entre os eleitores. “Eu vou estruturar essas ondas para a gente chegar”, diz.

A primeira, promete ele, deve se desenrolar após o fim do período do horário eleitoral gratuito, na quinta-feira (3).

Como de costume, o autodenominado ex-coach cria metáforas pouco claras para explicar seus passos. Marçal nega, por exemplo, se referir a picos de engajamento quando fala das ondas. Mas reconhece que um exemplo foi a cadeirada que levou do apresentador José Luiz Datena (PSDB).

O debate Folha/UOL desta segunda, de acordo com ele, não gerou onda. “É que nem o Medina, o surfista. Estava na Olimpíada e tinha certeza que ia ganhar [sic] o ouro, mas não veio a onda.”

Nos próximos dias, a artilharia de Marçal continuará a mirar Nunes e Boulos, primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto.

Foi essa a estratégia adotada no debate desta segunda, quando perguntou ao prefeito ao menos dez vezes sobre o boletim de ocorrência de violência doméstica registrado por sua mulher, Regina Nunes, em 2011. O caso foi revelado pela Folha nas eleições de 2020, quando Nunes concorreu como vice na chapa de Bruno Covas (PSDB).

O influenciador também voltou a provocar o psolista insinuando que tinha informações sobre uma internação de Boulos, a quem acusa falsamente de usar cocaína. Como mostrou a Folha, Marçal se baseia no processo de um homônimo para atacar o deputado.

Nesta segunda, Boulos afirmou que o motivo de uma internação sua aos 19 anos foi o enfrentamento de uma depressão crônica.

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