domingo, outubro 6, 2024
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Artista ainda vira voto?

Antes de gravar vídeos e assinar manifestos, artistas e intelectuais deveriam se perguntar se ainda têm capacidade de influenciar o voto alheio. Historicamente, exerceram o papel essencial de levar ao público não apenas cultura, mas informação. Foram a voz crítica, reflexiva e subversiva que chegava a todos os cantos do país e por isso tinham tanto impacto político.

Na reta final da eleição em São Paulo, os candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) apelaram ao apoio de celebridades na esperança de que a validação se transforme em votos. Esse tipo de movimento causa certo barulho nas redes sociais e notas em jornais, mas na prática o efeito é contestável. Os tempos mudaram. A internet esvaziou o papel de artistas, acadêmicos e jornalistas, que perderam espaço como formadores de opinião. O eleitor passou de espectador a agente político e não precisa mais que figuras públicas atuem como seus porta-vozes e, muito menos, lhe sirvam de bússola eleitoral.

A essa altura, um manifesto como o que prega voto útil em Boulos, com tom catastrófico de ameaça à democracia, soa elitista e um tanto arrogante, como se só os signatários tivessem a capacidade de fazer uma leitura objetiva do jogo político atual. Talvez os marqueteiros da campanha tenham sido impactados pelo efeito Taylor Swift, que ajudou o número de registros eleitorais disparar ao convocar seus fãs para votar em Kamala Harris.

Miraram na Taylor e acertaram na Regina Duarte. Os vídeos dramáticos que circulam nas redes lembram o tom da atriz, com medo do PT. A cantora é do tipo que venderia areia no deserto, fala a língua do público e das redes. Sua declaração de voto traz razões pessoais, embalada em deboche. Lamento informar, mas isso é mais convincente do que dizer em grupo que o bolsonarismo vai voltar —inclusive porque não foi a lugar algum.

É sedutor atender ao chamado de uma frente que se pretende antifascista, mas no final das contas participar desses manifestos serve só para sinalizar virtude aos colegas. Muitos desses artistas e intelectuais não mudam o voto nem da própria família.


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