domingo, outubro 6, 2024
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A taça perfeita vai quebrar

A taça perfeita não existe. Isso porque, fatalmente, um dia ela se quebrará. Por mais cuidadoso que você seja, basta um convidado destrambelhado, um vento que soprou mais forte, um simples movimento mal planejado —e pronto. Então, melhor desapegar desde já. E pensar duas vezes antes de comprar a mais cara da loja. Eu não quero passar meses de luto por uma taça, você quer?

Dito isso, a taça (quase) perfeita precisa ser ampla o suficiente para o vinho girar e não derramar, leve para ser manuseada com tranquilidade, mas não tão delicada que se quebre em um deslocamento mais empolgado. É preferível que tenha a borda fina e agradável no contato com a boca. Se for bonita, melhor, ninguém quer beber vinho bom em uma taça horrorosa.

Os novos copos próprios para vinho são lindos, mas cada vez mais gosto da haste. Nesse calor, ela nos ajuda a não esquentar ainda mais a bebida. E esqueça das taças coloridas, que não nos deixam apreciar a cor do vinho e julgar pela aparência se está bom ou ruim (é verdade: em alguns casos um vinho turvo denúncia defeito; em outros, é só estilo mesmo).

Já ouvi sommeliers mais cabeça aberta defenderem que o vinho pode ser servido em copo, caneca, o que for. Claro que todo mundo pode beber onde quiser, mas na taça fica mais gostosinho —o que não significa, como defende o pessoal do outro time, que é preciso de uma taça para cada tipo de vinho: se você pesquisar vai ver que há versões para bordeaux, para borgonha, para syrah, para branco aromático, para chardonnay e por aí vai.

Só para espumante tem uns 500 modelos. As abertas (coupe ou Maria Antonieta) são lindas, maravilhosas, mas não são recomendadas para aqueles que querem desvendar os mistérios da bebida. Com elas, não podemos sentir os aromas, não podemos girar (tudo voa, tudo molha) e a perlage (as borbulhas) vai embora rapidinho.

Já a flûte, aquela bem comprida, é chique, conserva as borbulhas e é ótima para a pista de dança, já que a boca estreita dificulta que a bebida derrame. Mas se você tem um espumante bom de verdade, não vai sentir o que ele tem a oferecer de melhor, porque ela não libera nada de nota olfativa. Se esse for o caso, a taça de vinho tranquilo (sem borbulhas) vai resolver.

Se fosse para escolher um só tipo de taça, eu ficaria com a universal: grande, de vinho tinto, que abraça todos os estilos em sua extensa área. Só lembre que quanto maior a taça, maior a nossa sede.

Outra coisa importante: a taça precisa ter uma esponja só para ela. Essa esponja não pode sequer conversar com a que cuida da louça geral (essa dica pego emprestado da especialista em cerveja Heloisa Lupinacci). E se a sua taça reside há muito tempo em um armário, por favor, dê um belo banho nela antes de usar —do que adianta servir uma bebida incrível em uma taça linda, leve, ampla e fedida? Seu vinho seria mais feliz numa caneca limpinha.

Vai uma taça?

Se você quer investir umas centenas de reais, a Riedel 002 (R$ 349 o kit com duas unidades, na Mistral) é resistente; uma delas durou uns três anos comigo, seu par ainda está entre nós. São elegantes, amplas e sólidas. As Tanyno Glass (R$ 59 a universal, na Vitrus) são lindíssimas, finíssimas, levíssimas e ideais para os mais cuidadosos. Um bom custo-benefício é a Schott Zwiesel (R$ 279 por seis unidades, na Amazon).


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