domingo, outubro 6, 2024
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'Pinguim' com Colin Farrell tem ambição de ser 'Sopranos' (e vale assistir)

Com um novo “Coringa” nos cinemas, talvez você esteja saturado de vilões de Batman. Ou talvez você torça o nariz para coisas que envolvam super-heróis. Ainda assim, vale ver “Pinguim”, minissérie da HBO/Max com o mais humano dos inimigos do homem-morcego.

Fãs de Gotham City não devem se decepcionar, ainda que Bruce Wayne não dê as caras na série, a não ser como menção no noticiário de TV: o Pinguim ainda é Oswald Cobblepot (ou Oz Cobb), gangster com uma deficiência física que lhe rende o apelido, a ambição de reinar sobre o crime de Gotham, uma relação de codependência com a mãe e um gosto particular pela cor roxa. E há, sim, muita ação.

Na versão da roteirista Lauren Le Franc e do diretor Craig Zobel, entretanto, Gotham está mais próxima da Nova Jersey de “Família Soprano” do que do simulacro de Nova York visto nos filmes de Tim Burton (1989 e 1992) e Christopher Nolan (2005, 2008 e 2012), para citar os mais cultuados. A cidade está dominada pelo narcotráfico e pelo crime organizado, há saques, há desigualdade social, há atentados terroristas —tudo numa escala mais verossímil e menos grandiloquente do que as imaginadas por seus predecessores.

E há o Pinguim de Colin Farrell, um personagem que não chega ao existencialismo soturno do próprio Batman, mas que extrapola as caricaturas e oferece as nuances psicológicas e morais com as quais a chamada Era de Ouro das séries passou a compor seus anti-heróis, sendo Tony Soprano (James Gandolfini) o pioneiro entre eles.

Não se trata apenas de prover o personagem de um passado triste, ainda que a história de vida de Oz não tenha sido alterada na série: o andar desengonçado, bullying, pobreza, desestrutura familiar, desejo de uma pedigree que ele jamais terá estão lá. Mas de infundir-lhe certa ambiguidade moral e motivações mais complexas do que o misto de psicopatia e recalque com o qual costumam ser construídos esses vilões de quadrinhos.

Há, tal qual o Tony de Gandolfini, uma certa simpatia inescapável ao Oz de Farrell (irreconhecível e excelente sob a maquiagem), que havia dado as caras em breve aparição no “Batman” de Matt Reeves, dois anos atrás. Isso não o torna admirável, tampouco justifica suas ações como os filmes de Todd Phillips parecem tentar fazer com o Coringa, por exemplo.

Oz encontrou percalços na vida, mas também fez escolhas ruins a partir de um desejo de ser aceito. É um vilão que leu Maquiavel ao contrário, prefere ser amado a ser temido, e por isso opera por meio da manipulação. É, antes de tudo, um pusilânime e um mentiroso, mas de certa graça em como interage com seus adversários e um tom paternal com o qual trata Victor (Rhenzy Feliz), seu assecla/aprendiz.

Um segundo ponto que torna a nova série tão interessante é a relevância da personagem Sofia Falcone, vivida por Cristin Milioti. Ora cúmplice ora rival de Oz, ela caminha pelo mundo do crime com a mesma dificuldade de aceitação do Pìnguim, embora bem-nascida na família de mafiosos que controla a cidade.

As últimas empreitadas com heróis no cinema e na TV tratam melhor as personagens femininas, sejam elas heroínas, vilãs ou interesse romântico. Le Franc e Zobel vão além e não dão a sua vilã a exuberância física e os trajes sumários dos quais esse gênero de produção parecia não conseguir escapar, além de torná-la nuançada.

Apresentada como minissérie, “Pinguim” tem oito episódios. Dada a recepção pelo público e pela crítica, não é difícil imaginar uma nova temporada.


Os dois primeiros episódios de “Pinguim” estão disponíveis no Max e na HBO, e as estreias dos novos ocorre aos domingos


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