sábado, outubro 5, 2024
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A improvável missão da presidente do México

A esquerdista Claudia Sheinbaum tomou posse como presidente do México na terça (1º) com o desafio de dar continuidade à agenda populista centralizadora herdada de seu padrinho político e antecessor, Andrés Manuel López Obrador, num cenário de crescimento frágil e quadro fiscal preocupante.

A segunda maior economia da América Latina tem, por meio da política dos EUA de privilegiar importações de países vizinhos (nearshore), uma chance de escapar da armadilha da renda média, superar mazelas sociais e incrementar a industrialização.

Contudo a atração de investimentos exige compromisso com uma gestão racional da economia, até agora não evidenciado pelo governo mexicano.

A garantia de Sheinbaum de buscar a austeridade fiscal, durante seu discurso de posse, diluiu-se nas promessas populistas que se seguiram, como a elevação do valor das aposentadorias e a contenção dos preços da energia, que contrastam com a situação precária das contas do governo.

O déficit público deve alcançar 5,9% do Produto Interno Bruto no final deste ano, o que emite alertas sobre a tendência de alta da dívida pública, que chegou a 47,6% do PIB —ainda bem abaixo dos 78,5% do Brasil, diga-se— no primeiro semestre, e da inflação, na casa dos 5%.

Investimentos estrangeiros têm chegado ao México, de fato, mas carregados de incentivos fiscais e pressionados pela demanda por modernização da infraestrutura e contenção da violência.

Por mais que avente alguma autonomia em relação a AMLO, pelo menos para reduzir o rombo fiscal a 3,5% do PIB em seus seis anos de governo, Sheinbaum não dá sinais de reversão das reformas expansionistas de seu padrinho. Teme-se que o pragmatismo demonstrado quando governou a Cidade do México tenha terminado ao assumir a Presidência.

Paira, ainda, o viés autocrático do populismo de AMLO, que durante seu mandato proferiu ataques à imprensa, moveu militares a cargos públicos, enfraqueceu controles do sistema eleitoral e promoveu uma reforma temerária do Judiciário —com o objetivo de minar um dos poucos obstáculos às políticas de seu governo.

Sheinbaum foi escolhida por eleitores que desejavam a continuidade desse projeto e terá no Congresso a confortável maioria de seu partido, o Morena, comandado por López Obrador.

Mesmo assim, enfrentará o desafio de equacionar as contas públicas e estimular o crescimento pautando-se numa agenda intervencionista. A história mostra ser essa uma tarefa improvável.

editoriais@grupofolha.com.br

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