sábado, outubro 5, 2024
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A vida sem o clima de eleição

A dois dias da eleição, só se fala em outra coisa no Rio de Janeiro. Não fosse pelos candidatos à Câmara Municipal, os últimos meses teriam sido como a brisa de uma tarde de Sol de primavera, antes do aquecimento global. Não fosse pelo trabalho, a noite desta quinta (3) teria acontecido em frente ao Bip Bip, ao som de chorinho, regada a chope aguado, aquele que só o carioca sabe apreciar.

Em vez disso, acompanhei os debates das duas maiores capitais do país. Um olho no gato, outro no peixe, mas o que bombou mesmo em grupos de WhatsApp, nos jornais e nas mídias sociais foi a corrida em São Paulo. Estive na cidade no começo da semana e tive um déjà vu pesadíssimo da época em que o inelegível era presidente e que o único assunto possível era o seu desgoverno.

Eu me lembro de escrever à época: não há um dia de paz, não tem domingo de descanso, até na madrugada o desgraçado resolve fazer live para mentir. Quando ele deixou o poder, a vida voltou a como deveria ser. Por um tempo, a política passou a ocupar um espaço menor no dia a dia das pessoas. Já era possível começar uma conversa sem que o gancho fosse “e o Bolsonaro, hein?”, sem que uma real ameaça à democracia não monopolizasse também a agenda social.

Voltamos a falar do tempo, até porque tem sido difícil ignorar o calor desgraçado que tem feito. A monotonia na eleição no balneário não deveria ser exceção, mas a regra. Coitados dos paulistanos, assados pelas temperaturas ainda mais altas do que no Rio, fritos pelo clima de animosidade que a política imprime na cidade. A discussão pelo voto útil, inclusive pelo que seria de fato um voto acabou com a trégua que reinava nas famílias e em grupos de amigos.

Por aqui, temos nos permitido ao prazer da alienação saudável. Voltamos a discutir os assuntos mais importantes, aqueles totalmente desimportantes. Na maioria dos dias, começo a leitura pelos cadernos de cultura, saúde, comportamento. Mais um pouco, volto a ler a previsão astrológica. Tenho assistido a programas que têm a profundidade de um pires e fiquei viciada em vídeos de restauração de móveis e de pisos de tacos de madeira.

Aparentemente os americanos descobriram que são mais bonitos e saudáveis do que carpetes horrendos. Estou prestes a me inscrever num curso de marcenaria sem ter o menor talento. Desliguei o noticiário e tenho ouvido mais música. Ao ler uma notícia sobre Sabrina Carpenter não precisei dar um Google para saber quem era. Que importância tem isso? Nenhuma. Mas parei de me sufocar com informações, o que foi suficiente para melhorar o sono, a lombar e as relações pessoais.

Como de tédio ninguém morre, essa calmaria no Rio, que considerava a eleição resolvida no primeiro turno, começou a sofrer ameaça de tempestade com as últimas pesquisas. Espero que carioca seja pragmático e não corra o risco de perder mais um domingo de praia, levando a eleição para o segundo turno.


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