sábado, outubro 5, 2024
CidadeNoticias

Com máquina, alianças e TV, Nunes põe à prova cartilha política em SP

São Paulo – O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), seguiu à risca, ao longo dos últimos dois anos, o manual do candidato à reeleição com o objetivo de evitar, justamente, o cenário em que ele se encontra neste sábado (5/10), véspera da eleição à Prefeitura de São Paulo: disputando de forma acirrada uma das vagas no segundo turno da corrida municipal contra um candidato de direta, o influenciador Pablo Marçal (PRTB).

O prefeito, Marçal e o deputado federal Guilherme Boulos (PSol), nome da esquerda na disputa, estão empatados na liderança das pesquisas, todos com chances de avançar ao segundo turno ou ficar pelo caminho. Segundo a pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira (3/10), Boulos tem 26% das intenções e voto, enquanto Nunes e Marçal têm 24% cada um.

O prefeito se valeu do peso da máquina pública municipal para compor um arco de alianças que reuniu 12 partidos e lhe garantiu 65% do tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV, uma exposição hegemônica que alavancou seus índices de intenção de voto após o início do período de exibição das peças. A ampla coligação, contudo, não foi o único “check” do prefeito na cartilha do candidato à reeleição.

Político de perfil moderado e negociador, Nunes avaliou que precisaria se aproximar da direita bolsonarista em meados de 2022, durante as eleições para o governo estadual e à Presidência da República, por causa do pacto selado entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então presidenciável, e Guilherme Boulos, pelo apoio do PT à candidatura do ex-líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) à Prefeitura da capital neste ano, em troca da adesão à candidatura de Fernando Haddad (PT) a governador em 2022.

Certo de que enfrentaria um adversário de esquerda com o apoio de Lula, Nunes calculou que sua melhor estratégia seria buscar o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu partido, o PL, dono da maior bancada na Câmara dos Deputados, para ter chance de vitória no cenário de polarização política vigente.

Essa estratégia enfrentou resistência dentro de sua própria equipe, que destacou os altos índices de rejeição de Bolsonaro na capital paulista e a falta de afinidade do prefeito com as pautas bolsonaristas. Mesmo assim, Nunes argumentou que sua intenção não era se tornar um radical de direita, mas evitar que um bolsonarista “raiz” chegasse às urnas, o que poderia dividir os votos do centro e da direita e ameaçar sua ida ao segundo turno contra Boulos.

Apoio caro

Com o terceiro maior orçamento público do Brasil, Nunes conseguiu unir 12 partidos de centro e direita ao seu redor, incluindo o PL de Bolsonaro e Valdemar Costa Neto. Nesse processo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) emergiu como seu principal fiador.

O problema foi que o prefeito não conseguiu entusiasmar o ex-presidente, o que o levou a uma longa negociação política. Já às vésperas da campanha começar, Bolsonaro afirmou que Nunes não era seu “candidato ideal”.

1 de 7

Nunes, missionário Valdemiro Santiago e Tarcísio

Divulgação/Campanha Ricardo Nunes

2 de 7

Nunes com Michel Temer, seu correligionário

Divulgação/Campanha Ricardo Nunes

3 de 7

Aliados de Nunes durante ato político

Divulgação/Campanha Ricardo Nunes

4 de 7

Nunes durante palestra na Federação Israelita de SP

Divulgação/Campanha Ricardo Nunes

5 de 7

Nunes em caminhada no Parque Santo Antônio, zona sul

Divulgação/Campanha Ricardo Nunes

6 de 7

Nunes durante palestra para procuradores do município

Divulgação/Campanha Ricardo Nunes

7 de 7

Nunes falando a profissionais da Educação

Divulgação/Campanha Ricardo Nunes

Com Valdemar, Tarcísio e outros aliados pedindo apoio a Nunes, Bolsonaro acabou cedendo, mas exigiu que o candidato a vice fosse Coronel Mello Araújo (PL), sua indicação pessoal.

Com a campanha na rua, porém, Bolsonaro simplesmente não apareceu. Gravou um pequeno vídeo, de celular, dizendo que Nunes era seu candidato e participando de forma virtual de alguns encontros. Aliados esperavam por uma caminhada em conjunto e gravações para o programa eleitoral, que não aconteceram — nessa sexta-feira (4/10), Bolsonaro fez uma live defendendo o voto no prefeito e enaltecendo o vice que indicou.

A campanha tentou compensar a falta de Bolsonaro com outro expoente da direita. Tarcísio emprestou sua popularidade e seu carisma, maior que o do prefeito na visão dos aliados, para ser um dos rostos da campanha na TV e nas redes sociais e uma voz ativa nas ruas. O governador se empenhou na disputa, levando ao eleitor a mensagem de que Nunes era seu parceiro e a aliança precisava ser mantida. A ajuda foi tanta que, nos compromissos de campanha, foi Tarcísio – não Nunes, o candidato – a finalizar discursos e pedir votos.

Consequências

O alinhamento com Bolsonaro trouxe consequências esperadas, mas que atingiram Nunes de forma dolorosa, segundo fontes próximas. A maior delas foi a saída da Prefeitura, em janeiro, de Marta Suplicy, aliada que ele valorizava muito, para se tornar vice de Boulos após o apoio a Bolsonaro ser consolidado.

Embora aliados já esperassem que Marta retornaria ao PT, o alinhamento com Bolsonaro foi o pretexto incontestável para essa mudança, segundo o entorno do prefeito. Além disso, Nunes teve que fazer acenos ao eleitor bolsonarista, afirmando, por exemplo, que os presos de 8 de Janeiro não eram golpistas e que foi um “erro” exigir a vacinação contra a Covid-19 para frequentar locais públicos durante a fase mais letal da pandemia.

1 de 13

Nunes em evento da Abrasel

Campanha/Ricardo Nunes

2 de 13

Nunes durante caminhada na Lapa

Campanha Ricardo Nunes

3 de 13

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de SP, divulgando material de campanha

Campanha Ricardo Nunes

4 de 13

Nunes em visita a creche

Campanha Ricardo Nunes

5 de 13

Nunes em ação de rua

Campanha Ricardo Nunes

6 de 13

Nunes em evento no Secovi

Campanha Ricardo Nunes

7 de 13

Nunes olha para planta de obra pública

Prefeitura de São Paulo

8 de 13

Nunes durante visita à represa Billings

Prefeitura de São Paulo

9 de 13

Nunes cumprimenta paciente em unidade de saúde

Prefeitura de São Paulo

10 de 13

Nunes ao lado dos aliados Tarcísio de Freitas e Milton Leite

Prefeitura de São Paulo

11 de 13

Nunes na sala de reuniões do 5º andar da Prefeitura

Prefeitura de São Paulo

12 de 13

Nunes posa para foto com cozinheira

Prefeitura de São Paulo

13 de 13

Nunes dá a mão a funcionária pública no centro

Prefeitura de São Paulo

Apesar desses percalços, o plano de Nunes foi apresentar à população os investimentos feitos na cidade pós-pandemia, como a construção de novos equipamentos de saúde, o programa Smart Sampa de monitoramento por câmeras, a Faixa Azul para motociclistas e conquistas como o fim da fila por vaga na creche, além de promessas de construir 70 mil moradias e 80 km de corredores de ônibus.

Ele também se preparou para enfrentar acusações sobre supostos vínculos com a “máfia das creches”, investigações sobre obras sem licitação que beneficiaram seu compadre, e o boletim de ocorrência de ameaça feito contra ele por sua mulher, Regina, em 2011 — ele afirma que teve um desentendimento com ela à época, mas nega qualquer agressão.

No entanto, esse planejamento todo foi colocado à prova com a entrada de Marçal na disputa.

Fator Marçal

Conhecido nas redes sociais pela atuação como influenciador e coach, e dono de uma histórico polêmico, incluindo uma condenação aos 18 anos por integrar um esquema que aplicava golpes virtuais, Marçal só se viabilizou eleitoralmente por meio de um partido nanico, o PRTB, cercado de suspeitas de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e até membros com condenação por sequestro e tráfico de drogas, e adotando uma postura altamente agressiva na campanha.

Assim que sua candidatura foi confirmada e os debates entre os candidatos começaram, Marçal disparou nas pesquisas, obtendo até acenos de Bolsonaro quando parecia que ele poderia superar Nunes — a relação se desgastou quando Marçal tentou ofuscar o ex-presidente no protesto de 7 de Setembro, na Avenida Paulista.

Nunes diz acreditar, com base em pesquisas internas, que será reeleito se chegar ao segundo turno neste domingo (6/10). Os levantamentos mostram que ele derrotaria tanto Boulos quanto Marçal nos cenários simulados. No entanto, os sinais de que Marçal vem obtendo uma relevante ascensão na reta final da campanha deixam a equipe de Nunes em estado de extrema tensão.

source

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com