sábado, outubro 5, 2024
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Nunes é 'mal menor' e tem imagem de 'velhaco', dizem eleitores

Ricardo Nunes (MDB) não é o candidato ideal de ninguém ali, mas é o que tem para hoje. É um bom resumo de como pensam seis eleitores que vieram à sede da Folha, a três dias do pleito, para contar por que votarão pela reeleição do prefeito de São Paulo neste domingo (6).

“Na situação atual, é a opção mais tranquila. Ou você tem o radical de esquerda ou o coach messiânico”, diz Matheus Galdino, 23, estudante de recursos humanos no Senac. Assim ele descreve os adversários Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB). Já o prefeito seria um “mal menor”.

A conversa também sobrevoou o respaldo de Jair Bolsonaro (PL) a Nunes, polêmicas contra o prefeito e a imagem pacata que evocaria um “Joe Biden paulistano”.

Bolsonaro

Do grupo, apenas Juliana Gomes, 38, escolheu Lula para presidente em 2022, embora o petista tenha tido apoio de outros em pleitos mais remotos. A líder comunitária de Paraisópolis (zona sul de São Paulo), inclusive, foi de Boulos em 2020. O psolista acabou derrotado por Bruno Covas (PSDB) —Nunes, o vice, assumiu após a morte dele, aos cinco meses do segundo mandato.

Juliana diz gostar de Nunes porque ele retomou obras em sua região paralisadas em gestões anteriores, sejam elas à esquerda ou à direita. Aliás, ela nem vê sentido nessa divisão ideológica, ao contrário da maioria, que se diz de direita. Para Juliana, importa mais é quem traz benefícios para a comunidade. “A gente precisa parar de querer eleger heróis que vão salvar a nossa vida.”

Todos concordam que o emedebista circula pelo centro político. Preferi-lo é mais “uma escolha racional do que emocional”, diz o professor Aelison de Queiroz, 59. ” O Paulo Moura, cientista político, fala: você é torcedor ou é analista? Então, deixo essa coisa da torcida. Você fica torcendo, torcendo e sofrendo.”

O influenciador e cantor gospel David Ota, 18, chegou a oscilar entre o prefeito e Marçal. “Mas a história que Nunes criou [na política] não se compara.” Vai seguir a orientação do pai, o pastor Leoncio Ota, 40, nesta eleição, a primeira da sua vida.

À exceção de Matheus e Juliana, todos apontam o apoio de Bolsonaro como crucial para votar no prefeito.

Matheus conta que apertou o número de Bolsonaro “a contragosto” em 2022. “Ele foi traindo as pautas, foi se aliando muito ao centrão”, afirma. “Mudou demais, tanto que hoje está mais aliado a um candidato de centro, o Nunes”. Em quem só votará por falta de opção melhor, diz.

O endosso da moradora de Paraisópolis chegou a bambear quando o ex-presidente abraçou a candidatura de Nunes e indicou Ricardo de Mello Araújo, ex-líder da Rota, para vice na chapa.

Ela passou por cima desse incômodo por enxergar em Nunes disposição para “dialogar com os dois lados”, tanto com Lula quanto com o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Imagem

A turma acha que Nunes não transmite uma imagem forte ao eleitor, ainda que Bananinha, o apelido que Marçal deu a ele, tenha pouca aderência em seus círculos. “Ele tem a imagem de um político velhaco, antipovo, da elite mesmo. Também não engaja muito na internet, é fraco nisso aí. Até nos debates, né? Ele é tipo um [Joe] Biden paulistano”, diz Matheus.

Tanto que, para ele, uma notícia mais ajudou do que atrapalhou o prefeito: a denúncia por porte ilegal de arma em 1996. Na ocasião, Nunes apertou o gatilho de uma pistola calibre 380 na porta de uma balada chamada Caipirão. Em 2024, ele disse que foi apenas um disparo acidental com arma de terceiro.

Para o estudante, o fato empresta virilidade à “cara de bobão” associada a Nunes.

A dentista Claudia Bastos, 54, vê uma vantagem na faceta mais pacata. “Nunes não destemperou igual o [José Luiz] Datena, conseguiu passar uma imagem de ter mais condições de tocar a administração pública de uma cidade da magnitude de São Paulo.” Refere-se à cadeirada que o tucano deu em Marçal durante debate.

Para Leoncio, o eleitor médio quer “o candidato branquinho, de terno, que fala bem”, o que seria outro ponto para Nunes.

Polêmicas

O boletim de ocorrência de violência doméstica feito pela esposa contra Nunes em 2011 incomoda, mas o fato de Regina Carnovale Nunes ter voltado atrás da acusação e estar até hoje com o prefeito pesa.

Juliana, que tem um projeto social voltado a mulheres agredidas por parceiros, pondera que a vítima muitas vezes não consegue levar a denúncia adiante. “A gente sabe o quanto a mulher é pressionada na sociedade para silenciar, né?”

Claudia diz que tem “sempre tem um olhar atento a isso”. Acredita, porém, que, nas eleições, “as coisas são levantadas de uma maneira direcionada”.

A dentista aposta que o ônus eleitoral é maior com a chamada máfia das creches, investigação da Polícia Federal que respinga em Nunes.

Para Leoncio, “não tem um político que não rouba”. Juliana defende que Nunes seja investigado, mas aposta na inocência dele, ou jamais o escolheria. “Se tenho um funcionário, e ele faz um trabalho maravilhoso, mas todo dia leva alguma coisa embora da minha casa, vocês aceitariam?”

Propostas

David cita segurança pública como tema prioritário, sobretudo para resguardar motoristas de Uber —seu pai, o pastor Leoncio, é um deles. Matheus elogia avanços na digitalização da Prefeitura e a faixa azul, pista só para motos em avenidas movimentadas, bandeira da gestão Nunes.

Juliana se diz preocupada com a insegurança alimentar —pesquisa aponta que metade da população sofre dela em graus variados, entre eles deixar de comprar comida para pagar boleto.

Efeito Marçal

O influenciador é mais citado do que Boulos como ameaça maior a Nunes. Marçal é um “encantador de cobras” que periga criar “o Partido Coach” para Matheus.

Mas que é um fenômeno que embaralhou a direita, isso ninguém nega. Na escola particular onde ensina português para uma garotada entre 11 e 16 anos, no Tatuapé (zona leste), o que Aelison mais encontra são alunos fazendo o M, símbolo de Marçal.

O grupo, contudo, vê ânimos menos acirrados do que na disputa Lula vs. Bolsonaro. Juliana lembra que a filha voltava da escola triste por brigar com amigas que reprovavam “ela ser Lula”. Tinha seis anos.

Caso Nunes não chegue ao segundo turno, só Juliana e Matheus têm certeza do que fazer: ela vai em Boulos, e ele anula o voto. O restante diz que ainda não sabe como agiria.

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