segunda-feira, outubro 7, 2024
Noticias

Marçal ainda está no jogo

A repórter especial Anna Virgínia Balloussier acompanha o campo evangélico há mais de dez anos e, na última sexta-feira (4), presenciou algo inesperado: o pastor Silas Malafaia, principal figura do bolsonarismo entre os evangélicos, saiu em defesa de Guilherme Boulos, o candidato de esquerda mais bem posicionado na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Como isso foi possível?

Na noite de sexta, a campanha de Pablo Marçal divulgou um exame de sangue falso para acusar Boulos de uso de cocaína. “ESSE BANDIDO TEM QUE SER PRESO!“, dizia a nota de Malafaia. “Não é porque Boulos é nosso inimigo político que vamos aceitar uma farsa dessa.”

O atrito entre Malafaia e Marçal vem crescendo há alguns anos. A tensão nasce de uma disputa por público, que estaria migrando das igrejas para os cursos de prosperidade oferecidos pelo ex-coach. O conflito se agravou quando Marçal começou a atacar o candidato apoiado pelo ex-presidente na corrida pela Prefeitura de São Paulo.

Se Bolsonaro, o principal interessado, mantém uma postura defensiva em relação a Marçal, por que Malafaia insiste em confrontá-lo, mesmo sabendo que isso fortalece seu adversário?

Existem dois motivos: Malafaia está, neste momento, lutando por sua sobrevivência como figura pública e reage à estratégia de Marçal de disputar a preferência do eleitorado evangélico com o discurso dos costumes e da família.


A ascensão de Bolsonaro alçou Malafaia à posição de representante dos evangélicos no Brasil. “Ele foi ganhando mais visibilidade na mídia e fortalecendo seu capital político, ao mesmo tempo em que perdia espaço como líder religioso”, explica a antropóloga Christina Vital, da UFF. Sem o capital religioso e sem Bolsonaro, o que restará a Malafaia?

O pastor também entende o jogo simbólico de Marçal, que ataca a moralidade dos oponentes, associando Boulos ao uso de drogas e qualificando Ricardo Nunes como agressor de sua esposa e investigado pela polícia. Em contraste com Bolsonaro, Marçal se apresenta como alguém que se casou com sua primeira namorada, tem uma vida familiar exemplar. E repete que está na política para servir, não para enriquecer.

Líderes evangélicos, como os deputados Nikolas Ferreira e Marco Feliciano, já desafiam publicamente Malafaia, sugerindo que ele se encantou pelo poder e perdeu a bênção divina. Esses ataques ganham o apoio explícito de outros pastores.

Com Marçal fora da disputa por São Paulo, Malafaia ganha um respiro. Mas o influenciador não sai derrotado.

Marçal carrega consigo desta disputa a imagem de perseguido, valorizada por muitos evangélicos. Ele expôs Bolsonaro como parte do sistema ao compor com partidos do centrão, o que lhe garantiu apoio de expoentes da direita religiosa. Também ampliou sua capacidade de interlocução com a sociedade pelo país via redes sociais. E pode usar esses canais para promover o culto Primícias, que transmite pelo YouTube às segundas, e para espalhar novas células do seu Quartel General do Reino (QGR).

Ele ainda está no jogo.

spyer@uol.com.br


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

source

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com