terça-feira, outubro 8, 2024
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Se Israel não existisse, o Oriente Médio continuaria um inferno

O Oriente Médio em chamas e eu perdendo meu tempo com “especialistas” instantâneos na TV. Um deles, com ar compungido, dizia que o problema da região, desde 1948, era a presença de Israel. Se o estado judaico não existisse, é justo imaginar que a paz universal reinaria entre os povos.

É estarrecedor. A criatura, manifestamente, nunca ouviu falar da guerra Irã x Iraque. Nunca ouviu falar das guerras civis do Iêmen. A Síria dos últimos anos é um completo mistério. E os morticínios entre curdos e turcos, então, é coisa de outro planeta.

Se Israel nunca tivesse existido, as rivalidades entre sunitas, xiitas ou cristãos continuariam a transformar o Oriente Médio num inferno. A única diferença é que o mundo não prestaria tanta atenção, como de fato não presta aos horrores do Sudão ou da Líbia.

O fato de existirem judeus é a razão principal para existirem tantos “especialistas” instantâneos.

Mas existe um segundo erro nas análises correntes: a ideia absurda de que continuamos a falar do velho conflito entre israelenses e palestinos. A ideia absurda de que ainda estamos a discutir questões territoriais.

Não estamos. Sim, em teoria, a solução dos dois estados continua valendo como a mais realista. Assim é desde 1937, quando a Comissão Peel publicou o seu famoso relatório após presenciar “in loco” a absoluta incapacidade de judeus e árabes para viverem no mesmo território.

Nada mudou —e, com o acordo de Oslo, as duas partes aceitaram o inevitável.

Quem não aceitou foi o Islã radical, que através do Hamas e do Hezbollah foi sabotando o “processo de paz” com atentados terroristas.

Por outro lado, o integralismo sionista não matou apenas Yitzhak Rabin, um dos obreiros de Oslo. Os partidários de um Grande Israel foram exercendo cada vez mais influência nos governos israelenses posteriores, sobretudo depois dos fracassos de Ehud Barak (em Camp David) e de Ehud Olmert (em Annapolis).

O conflito transformou-se num jogo de soma zero: ou existe Israel, ou existe um estado palestino teocrático.

Falso dilema. “Do rio até ao mar”, podem existir dois estados independentes. Desde que o integralismo sionista seja derrotado. E desde que o islamismo radical também.

Sobre a primeira derrota, cabe aos israelenses decidir pela força do voto, quando o momento chegar.

Sobre a segunda derrota, e por mais importante que seja a degradação operacional do Hamas e do Hezbollah, tudo será inútil sem uma mudança de regime em Teerã.

O jornalista Robert D. Kaplan, que está longe de ser um sionista, escreve no New Statesman o óbvio: as armas, o dinheiro, o treino e a ideologia do Hamas, do Hezbollah, dos houtis e de outros grupos terroristas no Iraque e na Síria têm a mesma origem iraniana.

Sem uma mudança de regime no Irã, as guerras a que assistimos em Gaza e no Líbano são supérfluas (e, infelizmente, de uma crueldade sem nome). E como promover essa mudança?

Ninguém sabe. Nem Robert Kaplan. Mas creio que essa é a grande pergunta que ocupa o governo israelense quando prepara o contra-ataque ao Irã.

Sem decapitar a hidra deste pântano, massacres como o 7 de Outubro vão continuar. E, mais cedo ou mais tarde, Israel e o Ocidente terão pela frente um regime fanático, milenarista e com capacidade nuclear.


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