domingo, outubro 13, 2024
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A dona de casa mais retratada pelos modernistas no Brasil

O que chama atenção na Casa Guilherme de Almeida, em Perdizes, é a quantidade de retratos da mulher do poeta, Belkiss Barrozo de Almeida, apelidada de Baby, que não foi nenhuma locomotiva social, nem artista ou mecenas. Era uma dona de casa culta que viveu uma vida tranquila ao lado do marido e transitava entre artistas e intelectuais. São pelo menos sete telas, três delas pintadas por expoentes do modernismo brasileiro, como Lasar Segall, Anita Malfatti e Emiliano Di Cavalcanti. .

A quantidade de quadros é uma declaração de amor de Almeida pela esposa. Além do três citados, há retratos pintados por Vittorio Gobbis, Noêmia Mourão, Wagner de Castro e Quirino da Silva, que ficavam espalhados nos cômodos da casa na rua Macapá. O casal viveu ali entre 1946 e 1969, quando Guilherme morreu.

Belkiss nasceu em Quixadá, no Ceará, em 1901, porque o pai estava trabalhando por lá como engenheiro. Conheceu Guilherme de Almeida aos 21 anos. Guilherme estava fazendo sucesso editorial em São Paulo no começo dos anos 1920 e passou a receber cartas de uma admiradora do Rio de Janeiro, que era Belkiss.

Os dois passaram a trocar correspondências até se encontrarem em setembro de 1922 em uma exposição comemorativa do centenário da Independência, no Rio. Casaram-se no ano seguinte. E tiveram um filho, Guy Barrozo de Almeida. Belkiss era tia do colunista social Zózimo Barrozo do Amaral.

Depois do casamento passam a morar no Rio, onde ficam até 1925, mas Guilherme não se adapta e os dois decidem fixar residência em São Paulo, primeiro em Santo Amaro e depois em uma casa na rua Pamplona. Em 1930, Guilherme de Almeida foi o primeiro modernista eleito para a ABL (Academia Brasileira de Letras).

Ao longo de sua vida Belkiss não teve uma atuação profissional e nem era milionária. Mas se tratava de uma mulher inteligente e sociável. Passou uma temporada em Barcelona e lia muita poesia, francesa principalmente. Conhece Guilherme por causa do seu interesse em literatura. Falava francês e inglês.

Há vários documentos no acervo da casa, como conta o educador Rodrigo Vieira, guia no local, que fazem referência ao convívio da Belkiss e do marido com artistas modernistas. Mário de Andrade, por exemplo escreveu um poema numa revista chamada “Estética” dedicado ao casal.

Um amigo de Guilherme, o poeta Paulo Bomfim, conta que as noites na casa eram animadas. Tarsila do Amaral, Anita, Victor Brecheret, Di Cavalcanti e Noêmia Mourão eram visitas frequentes e declamavam poesias e discutiam arte e política. O casal era próximo também do empresário Roberto Simonsen.

No círculo social dos modernistas Belkiss era uma pessoa conhecida e muito querida, que chamava atenção pela beleza e desenvoltura. Era musa do marido, que dedica pelo menos um livro para ela, escrito quando eles eram recém-casados, mas só publicado décadas depois com o título “Cartas à minha noiva”.

Um ano depois da morte de Guilherme, Belkiss vende a “Casa da Colina”, como era chamada, com móveis, objetos e pinturas para o estado de São Paulo, que vê um interesse museológico na construção e no seu acervo. Isso indica que ela tinha acesso a pessoas poderosas e influentes. A moradia do casal é hoje um museu biográfico e literário.


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