sábado, outubro 12, 2024
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No Rio, vitória da velha nova direita

A vitória eleitoral de Eduardo Paes (PSD) demonstra a resiliência da direita tradicional na cidade do Rio de Janeiro. Desde 1992, quando Cesar Maia, primeiro padrinho político do prefeito reeleito, renegou o passado brizolista para vencer no segundo turno, sete das oito eleições para a prefeitura tiveram um mesmo campo político vitorioso. Em meio às suas diferenças, Maia, Luiz Paulo Conde e Eduardo Paes priorizam a retórica da gestão. As obras públicas de impacto surgem como grande marca de seus governos, que, com Paes, conviveram com a realização de grandes eventos, utilizados para construir certa vocação da cidade.

Se na década de 1990 Maia e Paes eram vistos como uma “nova direita”, que rompia com velhos representantes do campo, após a sequência de vitórias é inevitável retratá-los como uma direita tradicional resiliente à radicalização da ultradireita. O atual prefeito venceu no primeiro turno Alexandre Ramagem (PL), um candidato que condensa vários traços do bolsonarismo. Em tempos de ocaso da direita e da centro-direita antes hegemônicas, seja pela decadência do PSDB ou pela adesão dos seus quadros às fileiras da ultradireita, a vitória de Paes no berço político de Jair Bolsonaro (PL) é digna de nota.

Parte do sucesso do prefeito reeleito está na sua capacidade de construir uma coalizão que isola a esquerda. Enquanto em 2020 as duas candidatas da esquerda não chegaram a 15%, neste pleito Tarcísio Motta (PSOL) alcançou menos de 5% dos votos, enquanto Paes foi oficialmente apoiado pelo PT e despontou como candidato oficial de Lula. A ascensão da ultradireita tornou a aliança mais fácil, mas estamos diante de um movimento antigo de esvaziamento da esquerda institucional, o qual remonta ao ocaso do brizolismo e ao lugar secundário que, desde 1998, o estado do Rio ocupa nos planos da direção nacional do PT.

Bem-sucedido não apenas na disputa do Executivo, mas nas eleições para a Câmara dos Vereadores, o grande desafio de Paes é como ultrapassar as vitórias até hoje restritas à capital. A dinâmica política municipal tem sido bem distinta nas duas maiores cidades do país. Enquanto em São Paulo os pleitos frequentemente se nacionalizaram após a decadência do malufismo, no Rio parte do sucesso da linhagem Cesar Maia-Eduardo Paes está em isolar a disputa carioca das clivagens nacionais. Contra os esforços de Ramagem de aproveitar a popularidade de Bolsonaro na cidade, Paes procurou todo o tempo organizar a eleição como um plebiscito sobre seu legado como prefeito, longe dos embates entre PT e ultradireita. Sua construção estética como carioca “típico”, das rodas de samba e do chapéu panamá, pretende conferir autenticidade ao discurso.

Trata-se, sem dúvida, de estratégia comum em prefeitos incumbentes bem avaliados, mas a questão é que há repercussões mais profundas. A oposição entre política carioca e nacional responde bem, por um lado, a uma cidade que perdeu relevância relativa na política nacional e permite, por outro, manter coesa a heterogênea coalizão do prefeito. Para se tornar uma liderança nacional, um possível presidenciável, Paes terá, contudo, que construir novas alianças e modificar sua imagem, cuidadosamente construída. Ao mudar um time que está ganhando para disputar outro campeonato, ele arrisca a hegemonia já construída.

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